Aprendendo com os primitivos Irmãos - O "Didaqué"

Sempre recomendei a leitura do mesmo, mas eu mesmo não o possuia.

O "Didaqué" é um manual de ensino dos primeiros crentes.

Foi escrito no final do primeiro século. E a sua importância reside no fato de que foi escrito num momento bem próximo dos primeiros crentes e dos Apóstolos.Ele foi organizado simulteneamente ao escritos do livro do Apocalipse, por volta do ano 95 d.C.

Ele nos permite conhecer as origens do cristianismo, e principalmente, nos dá uma idéia de como eram a iniciação cristã, as celebrações, a organização e a vida das primeiras comunidades.

"Didaqué" significa "instrução" ou "doutrina" e tem um nome muito apropriado, "Instrução dos doze Apóstolos" que nos faz lembrar At 2:42:

"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações".

O que vamos descobrir na sua leitura é que o seu texto lembram imediatamente muitos textos do Antigo e do Novo Testamento, e muitas porções são também encontradas em outros escritos cristãos do século primeiro depois de Cristo.

O tom e os temas são bastante parecidos com os da literatura sapiencial e de diversos trechos dos evangelhos.Portanto, o "Didaqué" constitue-se num testemunho vivo das crenças e práticas dos primeiros cristãos, de como eles se alimentavam da Palavra de Deus, interpretando os textos bem de acôrdo com as suas necessidades e situações.

Ele não é da lavra dos apóstolos, bem como podemos compreender não tratar-se de um trabalho elaborado por uma única pessoa, mas é a coletânea de diferentes autores e que tem origem em diversas regiões.

Podemos entender também que estas comunidades não estavam estruturadas como conhecemos nos nossos dias.Não tinham um representante fixo; bispos e diáconos são mencionados de passagem e não sabemos bem como exerciam as suas funções.Podemos ler também sobre "apóstolos," "profetas" e "mestres", dando a impressão de que estes eram pregadores itinerantes.

Um pouco sobre a liturgia...

Podemos aprender também um pouco das práticas liturgicas, e notar que eram bem simples e feitas num clima doméstico.
A liturgia consistia numa iniciação cristã que envolvia, de início, o conhecimento do "Didaqué", o batismo, a confissão, a ceia do Senhor, todos administrados por membros da própria comunidade e não por algum ministro constituido para tal finalidade.

Podemos notar também uma grande preocupação de se manter separados pela conduta e pelo pensamento do ambiente em que viviam que era de uma sociedade essencialmente pagã.
Preocupavam-se em não se deixar manipular por aproveitadores e oportunistas, a se livrar dos falsos irmãos e falsos profetas e, sobre tudo, uma preocupação escatológica um tanto nervosa, como se a volta do Senhor fosse iminente, no dia seguinte.

De todos os temas litúrgicos tratados, vou reproduzir um deles que acho de capital importância o seu conhecimento: o batismo.
Vou reproduzir o texto que se encontra na página 19:
O Batismo VII -
Quanto ao batismo, procedam assim: Depois de ditas todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.- Se você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente.- Na falta de uma e outra, derrame três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

OBSERVAÇÕES:
Queira notar que a administração do batismo ocorria após um período de catequese, isto é, de ensino. Podemos entender isto, ao observarmos as palavras: Depois de ditas todas essas coisas... Como voce pode muito bem entender o numeral em romanos VII (sete) indica que há VI (seis) capítulos de ensinamentos antes do ensino do batismo.
Estes ensinamentos todos eram passados todos ao catecumeno:I - Os dois caminhos;- Viver é amar;- A violência do amor;- O amor de partilha;II - Exigências do amor ao próximo;III- As raízes do mal e do bem;IV - A pessoa inserida na comunidade;V - O caminho da morte;VI - Perfeição é servir ao Senhor;

A preparação e o cuidado para e na execução do batismo; A fórmula batismal...

Antes da execução do batismo era feito o jejum do qual participavam, prioritáriamente, o batizado, aquele que executava o batismo e demais pessoas da comunidade que pudessem.Num ritual simples, com água e à invocação da Santíssima Trindade.

Podemos observar as diferentes possibilidades da maneira de batizar e supor que a predominante fosse de imergir o candidato em águas correntes (rio), ou em outra água (reservatório, piscina). Na impossibilidade de uma das anteriores, era então feito o batismo por aspersão.Como podemos compreender, a exigência de instrução e jejum mostra que o batismo era feito somente para pessoas adultas. Podemos compreender também que não havia uma pessoa, um ministro especial para tal serviço.

Seguindo ainda os ensinamentos do "Didaqué" para o batismo:

- Antes do batismo, tanto aquele que batiza como aquele que vai ser batizado, e se outros puderem também, observem o jejum. Àquele que vai ser batizado, você deverá ordenar jejum de um ou dois dias.

Os demais ensinamentos do "Didaqué"
Os demais ensinamentos constantes do "Didaqué" são:

VIII - Jejum e oração; IX - A celebração da Ceia do Senhor; X - Agradecimento depois da Ceia do Senhor; XI - Verdadeiros e falsos pregadores; XII - Hospitalidade com discernimento; XIII - Sustentação do profeta; XIV - Celebração dominical; XV - A vida em comunidade; XVI - Perseverar até o fim.

Com a leitura do "Didaqué" cai por terra:

1º) as pregações dos falsos apóstolos que pregam contra a Doutrina da Trindade.
Eles afirmam que a Trindade é uma crença oriunda dos Padres Católicos.
Resultado de decisões tomadas no concílio de Niceia em 325 d.C.Podemos observar que os irmãos do primeiro século praticavam a fórmula batismal tal qual o Senhor Jesus ordenou "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28:19) e isto no ano 95 d.C.

A fórmula batismal quaternária usada pelos nossos ministros.

2º) Nossos ministros somam At 2:38 e Mt 28:19 resultando numa fórmula como descrevo abaixo: "Em nome de Jesus Cristo" "te" batizo, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo"A fórmula batismal usada pelos nossos ministros torna a Bíblia confusa e contraditória.
Porque em At 2:38 o Apóstolo Pedro está respondendo a uma pergunta feita em 2:37: "Que faremos, varões irmãos?
O Apóstolo não estava batizando. Quando ele foi para a execução do batismo, a fórmula que ele usou foi a de Mateus 28:19, com toda a certeza.
Nem poderia ser diferente.
A fórmula batismal foi dada, nas últimas instruções do Senhor Jesus, quando da sua ascenção ao céu, portanto as mais importantes; e o batismo relatado em Atos foi no dia do "Pentecostes", foi após dez dias da ascenção.
Só se o Apóstolo Pedro fosse um maluco para, passados apenas 10 dias, já estivesse inventando coisas;

Batizar de imediato

3º) cai por terra também essa estória de batizar de imediato.Os crentes do primeiro século ensinavam o básico antes de batizar alguém.
Sem conhecer as principais doutrinas o batismo não era efetuado.É o que podemos compreender com as palavras: "..Depois de ditas todas essas coisas..." Como voce pode muito bem entender o numeral em romanos VII (sete) indica que há VI (seis) capítulos de ensinamentos antes do ensino do batismo.

A excessiva crença nos versos de Tiago sobre a salvação por meio de boas obras

4º) cai por terra também a excessiva crença nos versos de Tiago quanto à nossa salvação:

pela graça ou pelas obras

O autor do livro de Tiago não era um apóstolo. Apóstolo significa "enviado". E o Tiago autor da carta que faz parte dos livros do Novo Testamento foi irmão do Senhor Jesus Cristo. Ele não foi enviado a lugar nenhum. Saiu da sua cidade, Nazaré e foi atender a igreja cristã de Jerusalém, cerca de 80 km longe do lugar onde habitava.
Os dois Tiagos relatados no Novo Testamento, os queforam apóstolos, são:
Um, Tiago, irmão de João Evangelista, os que o Senhor Jesus apelidou de "Filhos do Trovão", pela maneira impetuosa de agir. João foi o autor de um evangelho, das tres cartas e do Apocalipse. Era filhode Zebedeu e Salomé.
O outro era Tiago, o menor, filho de Alfeu e Maria deCleofas.

O Livro de Tiago, Irmão do Senhor

O livro de Tiago demorou a ser aceito como parte do "Canon do Novo Testamento".
Exatamente por não haver referências aos escritos desse Tiago, irmão do Senhor, no "Didaqué", nem nas cartas escritas pelos primitivos Irmãos, tais como Clemente de Roma (temos uma carta escrita aos crentes de Corintho), Justino Martir (também escritor), Policarpo (de quem temos uma carta escrita aos crentes filipenses, onde há 60 citações de versos do Novo Testamento, sendo que 27 deles são dos escritos de Paulo), Inácio (autor de livros), Irineu (autor de diversos livros), e outros mais. Além de não haver referências aos versos de Tiago, também não há sequer a citação da carta de Tiago.
A carta de Tiago foi mencionada claramente, pela primeira vez, por Orígenes no final do século III. Somente a partirde então é que ela teve uso regular na Igreja (Grega), e passou a figurar em algumas listas e catálogos, que eram as primeiras tentativas de formação do Cânon doNovo Testamento. A Carta de Tiago só foi aceita no Canon do NovoTestamento por volta do quarto século.

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